Ainda não era verão, mas o tempo já era quente, os dias já duravam mais que a noite, e o tempo era constante com aquele calor, aquela umidade de sempre e aquelas noites de dormir com ventilador na cara e lençol.
Era sexta-feira e eles não se falavam há muito tempo e, por causa dessas tecnologias de comunicação instantânea, tudo começou.
No meio da tarde ela chamou ele e disse que precisavam se ver hoje.
A resposta dele foi:
"Olha, tu tem sorte, hoje eu vim trabalhar de carro e posso passar na tua casa pra te pegar. Além disso, acabei de desmarcar o que tinha pra fazer."
Ela:
"Ok, 21h horas eu chego em casa e nos falamos."
A hora chegou e ele esperava olhando pro telefone enquanto viajava na internet. O telefone tocou e, no lugar dela, quem ligara naquele instante era sua namorada.
"Amor, pode vir me buscar? Saí mais cedo da faculdade hoje." A resposta foi um óbvio sim.
Imediatamente após desligar o telefone, aquele barulho clássico do MSN chamando. Ela chamou ele, perguntando que hora ele viria. Ele pediu uma hora, ela aceitou.
Ele pegou a namorada na frente da faculdade e levou ela até em casa. A conversa? Papos de namorado, como foi seu dia, o quê comeram, falaram de fulaninho e fulaninha, seus colegas de trabalho e no final, o clássico beijo na porta de casa, com ele indo embora só depois que ela tivesse fechado o portão.
Ele chegou em casa e não teve tempo pra mais nada, ligou pra ela e disse: "15 minutos!"
15 minutos depois, pontualmente, ele chega na frente da casa dela. Ela já esperava. Linda como sempre, cabelos longos, olhos claros como uma nascente de rio, blusa floreada, com bastante movimento, Short, um sapato de salto e aquela flor que ela sempre teve no cabelo. Ele, camiseta dos Ramones, calça Jeans e AllStar.
Assim que ela entrou no carro, o perfume tomou conta do carro e ele lembrou que há tempos não se viam e ele não sentia aquele cheiro.
"Então, pra onde vamos?" É como a conversa começa, em um tom meio nervoso, vindo dele, pois assim ficara lembrando do cheiro e observando-a.
"Não sei. Faz o seguinte, vamos indo sem direção, assim que nos decidirmos, vamos com um rumo certo."
A conversa logo toma como tema a praia e, antes que ele se dê conta, já está na estrada, enquanto comentam sobre sonhos, filhos que nunca tiveram realmente e incesto.
Eles chegam na praia e logo vão para um bar. Ela pede cerveja, ele, Coca-cola. Conversa vai, conversa vem. "Sabe a guria aquela? Os pais dela não deixam mais o namorado dela dormir lá, e querem que eles casem."(...)"A fulana é lésbica? Ela sempre fica me olhando..."
Ele quase nem fala, só sorri e olha atentamente pra ela, tenta prender cada palavra que ela fala, cada gesto e olhar, pois momentos como estes são extremamente raros. Ele comenta sobre a noamorada e em que pé anda o relacionamento.
Durante toda a conversa, ela levanta-se duas vezes e vai ao banheiro, nas duas vezes ele pensa, enquanto olha ela, indo e voltando em câmera lenta, enquanto na sua cabeça toca garota de Ipanema: "O quê uma garota como ela pensa em convidar um cara como eu, pra estar aqui, agora, do nada?"
É então que ela fala:
"Te chamei pra sair porquê estou indo pro Marrocos amanhã. Como não tenho nenhuma estimativa de retorno, queria te ver, pois pode ser a última vez."
Ela não sabe o que responder, apenas pergunta a hora da partida e fala pra eles aproveitarem, convida ela pra ver o sol nascer na beira da praia.
Antes de sair, ela pega um guardanapo e escreve:
"Arrasa o meu projeto de vida, querido, estrela do meu caminho, espinho cravado em minha garganta, garganta, a santa as vezes troca meu nome, e some..."Do outro lado do guardanapo, o pedido:
"Quando voltar do Marrocos, espero encontrar isso na tua carteira. Mesmo que se passem 10 anos. Beijos, Eu"Pouco antes do sol nascer, eles pagam a conta e saem do bar, o carro fica pra trás e eles vão a pé até a beira da praia, calça arrastando na areia e calçados nas mãos. Neste momento de silêncio, muitas palavras são ditas em pensamento, coisas que nunca foram ditas em todos estes anos que se conhecem. Desde "Tu devia deixar o cabelo crescer." até "Eu te amo.". Tudo isso dito, mas sem nenhuma palavra passar por nenhuma corda vocal.
Os dois sentam e esperam o sol, que começa a surgir. Quando cerca de metade dele aparece, ela levanta, ele levanta junto. Dedos se sentrelaçam e lá ficam eles, por alguns mminutos, olhando o Sol, calçados em uma mão, a mão do outro na outra. Ela à esquerda, ele à direita. Ainda sem nenhuma palavra. Aqueles poucos minutos duraram anos, cada segundo passou lentamente, cada piscar de olhos era como uma noite inteira passada ao lado do outro.
"Vamos? Tu ainda deve ter malas pra arrumar, e precisa dormir pra viagem. Tem fuso-horário e tal."
Ela concorda, ambos voltam, conversam sobre os mesmos assuntos da ida. Ele fala pra ela:
"Não sei se tu pretende voltar. Mas, quero que minha despedida de solteiro seja exatamente assim, contigo, no mesmo lugar, do mesmo jeito". Nada mais justo. Ela novamente concorda, ambos trocam de assunto, mas a promessa fica, e, espera-se que aconteça. Mesmo que se passem 10 anos.
Eles param na frente da casa dela, na hora do beijo de despedida, ele, novamente, fica nitidamente nervoso e vira o rosto. É um cara comprometido e não pode beijá-la, mesmo querendo despedir-se.
Assim ela fica e ele se vai. Assim, ele fica e ela se vai.
Ficam as lembranças de sempre, ficam os cheiros, as vontades e tudo mais. Mesmo que se passem 10 anos...
Por um mundo + AWAY! 2000inove!