15.3.13

Não tá fácil pra ninguém

Estava em uma fase difícil da minha vida, estava desempregado, sem dinheiro, com as contas acumulando na porta de casa. Além disso, parecia que o Saci vivia na minha volta só pra me sacanear. Goravam meus ovos, minha pipoca era só piruá, azedava o meu leite, queimava o feijão e sumiam meus utensílios domésticos. Não estava nada fácil.

Pra piorar, estava há quase um ano sem pegar nada além de gripe. Se eu quisesse receber carícias, teria que pagar. Já falei que estava sem dinheiro e desempregado? Pois é. Não estava fácil.

Pra tirar a "zica", fui à praia tomar um belo banho de água salgada. Talvez o mar levasse embora tudo de ruim que tinha. Passei algumas horas no mar. O resultado: tive insolação e peguei uma gripe. É, não tinha resolvido nada. Não estava fácil.

Um dia, andando na rua, uma garota ficou me olhando, olhei de volta e sorri, ela sorriu também. Conversamos um pouco e eu descobri que ela me reconheceu, havíamos estudado anos atrás na mesma escola. Trocamos contatos. Perguntei se ela tinha ficado me olhando por me reconhecer rápido. Ela respondeu que não, era pelo cocô de pombo que tinha no ombro. É, não estava fácil.

Conversamos pela internet e por mensagens, marcamos de sair, ira a uma festa e nos divertir. Pedi emprestado o carro de um amigo. Estava sem gasolina, tive que abastecer e lá se foi um pouco da pouca grana que tinha guardado para aquele dia. Cerca de duas quadras da casa dela, o pneu furou, assim que ela me viu, estava suado e com as mãos sujas do contratempo. Não estava fácil.

Fomos à festa, não podia beber nada já que estava dirigindo, então fiquei tomando energéticos, vários energéticos. Ela bebeu um pouco, inclusive tequila. Percebi que, pela primeira vez em muito tempo parecia que ia ser fácil. O problema: o energético em excesso me deu gases e passei o caminho todo de volta segurando o que não dava pra segurar pra tentar não fazer barulho e não infestar o carro com nenhum cheiro. Não estava fácil.

"Vamos comer um lanche?" Ela me perguntou. Fomos até uma lanchonete que ficava aberta 24h. Depois dali, pretendia parar na entrada de um motel e perguntar "Bora?" se ela aceitasse, tiraria o azar do corpo, se não aceitasse, era só uma brincadeira. Enquanto isso, meu estômago estava incontrolável. Não estava fácil.

Comemos e isso foi o suficiente para que eu precisasse imediatamente ir ao banheiro. Fiquei imaginando o que fazer, não ia ser muito sexy entrar no quarto do motel com ela e correr para o banheiro. Pelo jeito que minha barriga estava, não ia ser nada silencioso e tampouco sem cheiro. Estava suando frio e não conseguia mais escutar nada do que ela dizia, só pensava que precisava ir ao banheiro, nem na direção estava prestando atenção. E, num piscar de olhos, estava na frente da casa dela. Não estava nada fácil.

Ela fez uma cara de decepção, nisso consegui prestar atenção enquanto abria a porta e me inclinava para que o cheiro saísse direto para a rua. Não sei se ela sentiu o cheiro, se ela ouviu os barulhos, eu estava desesperado e não ia dar pra fazer nada naquele dia. Não lembro nem se dei um beijo nela naquela noite, apenas sei que ela saiu de lá decepcionada.

É... Não está fácil pra ninguém.

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