28.9.12

Cuida pra mim

Tenho um amigo que é motoboy, estamos sempre juntos e já temos aquele lance que parece mais uma telepatia. Um olha pro outro e já têm toda uma conversa.

Todos nós temos amigos assim, e esse dom passa de uns amigos para outros na medida que vamos envelhecendo e trocando de círculo de amizades.
Nós chegávamos ao ponto de, quando um de nós estava dirigindo e olhava para algo que tirava a atenção da rua, o outro cuidava e, se necessário, tomava o controle e impedia algum acidente. Isso aconteceu algumas vezes, tanto de um, quanto de outro.

Um dia, estávamos na casa dele, jogando futebol no videogame. Era um frio final de semana de inverno no Rio Grande do Sul. Estávamos sozinhos no apartamento e a fome começou a bater.

- Cara, tem alguma coisa aí na tua casa pra comer?
- Bah! Não tem, temos que comprar.
- Putz, ir até o mercado, comprar algo pra cozinhar ainda. Putz, tô com muita fome agora.
- Abriu um novo esquema de comida aqui em Canoas, dá pra gente pedir um almoço.
- Pois é, tem que ser algo pronto.

Ligamos, e a empresa estava com muitos pedidos, ia demorar muito. Decidimos pedir e nós mesmos ir buscar. Era um sábado e a feijoada estava na promoção. Fomos de feijoada.

Resolvemos ir de moto, embora estivesse frio, a moto era mais rápida pra chegar lá.
Chegamos ao local e pegamos as duas feijoadas, em um recipiente de isopor. Igual aos copinhos de sopa ou café vendidos em locais públicos, só que o suficiente para uma refeição.

Delicadamente, ajeitamos as feijoadas entre nós dois e voltamos pra casa.

No meio do caminho, ao passar por um posto de gasolina vagarosamente, vimos uma piriguete gostosa abastecendo o carro com roupa curta. Nós dois olhamos e nos distraímos...

O trânsito parou e batemos.

A feijoada voou por todos os lados, ficamos em pé, pois a velocidade era de, no máximo, 20Km/h. Rimos um pouco, a piriguete também. Entrou no seu carro e foi embora.

Ficamos lá, com fome, sem feijoada, sem gostosa, ouvindo um velho reclamar que não olhávamos e que podíamos ter nos matado ou destruído seu carro... Pelo menos, a feijoada nos esquentou no inverno, embora não da maneira que queríamos.


- Pô, tu não cuidou a frente?
- Bah velho, desculpa, mas dessa vez não deu.

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