Uma recepção calorosa

16 de Fevereiro é uma data singular.
Só me mudei duas vezes na vida. Nestas duas vezes, isto aconteceu em 16 de Fevereiro.

Desta vez, me mudei com mais 3 amigos para São Paulo.
Não conhecíamos nada. Foi decidido, então, que iríamos para um hotel próximo do trabalho e, chegando em São Paulo, alugaríamos um apartamento.

Hotel escolhido, passagens compradas. Fomos para Guarulhos.

Descendo em Guarulhos meio-dia, pegamos um taxi:
"Queremos ir no Brás! Rua 21 de abril."
"Não conheço muito praqueles lados"

Ele colocou o endereço no GPS e lá fomos nós.

Chegando no Brás o GPS dizia: "Vire a direita." E o taxista segua reto. O GPS recalculava a rota e mandava voltar, o taxista se irritava com a moça do GPS.

"Essas porcarias compradas na Santa Ifigênia não servem pra nada."

Depois de um tempo, chegamos ao nosso destino.
Eram 2 da tarde. Fazia um calor típico de verão. Entramos no hotel, fizemos o Check-in e largamos nossas coisas.
Estávamos morrendo de fome, então, decidimos sair e ir almoçar em algum lugar.

Os guris colocaram tênis, bermuda e camiseta. Eu optei pelo clássico havaianas.

Caminhamos até uma das ruas grandes que tínhamos visto enquanto dávamos voltas com o taxista e seu GPS. Seguimos na rua tentando achar algum restaurante que fizesse agrado aos nossos olhos.

Então vimos, de longe, um gaúcho em sua churrascaria. É lá!
Chegando mais perto vimos que o cinto era de barretos, o chapéu, só de enfeite, ele usava calça jeans e tinha uma cabeça achatada. De gaúcho, só o nome da churrascaria, mesmo.

Entramos mesmo assim. Comemos uma carne terrível(Depois, fui descobrir que a carne de São paulo é diferente da do RS) e, enquanto lá estávamos, começou a cair o maior temporal na rua. Típica pancada de verão.

"Vai embora em 40 minutos", eu pensei.
Uma hora depois, resolvemos sair da churrascaria, com as ruas já começando a alagar, a companhia de engenharia de tráfego colocava cones na rua para guiar os motoristas. Fomos caminhando todo o caminho de volta por baixo das marquises das lojas do Brás.
Chegamos na esquina da nossa rua e estava tudo alagado. Ficamos esperando um pouco.
"Parece que agora vai parar."

Repentinamente, um saco de lixo gigantesco veio boiando pela água e trancou a entrada do esgoto. Resultado: Em segundos tudo estava cheio d'água.

Saímos correndo então, na rua alagada, com água pelo joelho suja a ponto de não conseguir ver meus pés.

Você já correu de havaianas em um lugar alagado?

Em menos de um minuto, o chinelo grudou no asfalto e ficou. Meu pé veio, meu chinelo não.
A correnteza levou meu chinelo pro lado oposto ao que eu estava correndo. Voltei e peguei o chinelo. Então, fiz a coisa mais sensata para o momento: Botei o chinelo no pé de novo.

Corri para tentar alcançar os guris e tudo aconteceu de novo.

Neste momento, um velho bêbado num bar riu da minha cara como se não houvesse amanhã.
4 da tarde, chovendo pra caralho, eu correndo atrás do meu chinelo na correnteza de água podre do Brás até o joelho e um velho bêbado ria da minha cara como se eu fosse um palhaço...
Peguei o chinelo e fiquei com os dois nas mãos. Corri o que pude, torcendo para não pisar em nenhum vidro até o hotel.

Chegamos no hotel como pintos molhados.

Fomos para o quarto para tomar banho. Ao entrar, tentamos ligar a luz: Nada.
Prestamos atenção e vimos que a luz não ligou pois ela havia se tornado uma cachoeira... Tivemos que trocar de quarto.

É, parece que a estadia em São paulo tinha tudo pra dar certo...
Valeu aí, terra da garoa, por me recepcionar com uma chuva torrencial, comendo churrasco cearence, feito por um gaúcho cabeça-chata de Barretos, com um velho bêbado rindo da minha cara correndo atrás dos meus havaianas na água suja do Brás. Sem palavras pra agradecer.

"Tivemos uma recepção calorosa!"