30.1.11

Stella

Quando pegava o trem pra ir pro trabalho, quase sempre via uma garota que esperava o trem...

Mais ou menos da minha idade, talvez, um ou dois anos mais velha. Cabelo desarrumado, mas, aquele desarrumado arrumado, sabe? Pintura forte nos olhos azuis, dava impressão até que queria esconder as olheiras. Usava sempre umas roupas que me apaixonavam, casacos xadrez, roupas com cores como roxo, escuro, mas marcante. Calçava sempre sapatos bonitos e, todo dia, estava tomando café pra, aparentemente, esquentar-se e manter-se acordada.

Recentemente vi ela duas vezes no Bourbon, perto da minha casa. A última vez, acompanhada de um cara que ficou me encarando de uma forma meio agressiva quando viu que eu olhara pra ela.

Um dia desses, pra tirar o peso que tenho sentido das responsabilidades e das coisas perdidas, fui pra um pub qualquer beber. Adivinhem quem lá estava, com o mesmo cabelo bagunçado, a mesma maquiagem no olho e as mesmas roupas?

Fiquei um bom tempo vendo ela de longe, pra ver se não estava acompanhada. Notei que ela percebeu que eu estava olhando. Ela deu um leve sorriso e olhou pro outro lado, enquanto tomava mais um gole da cerveja que tinha.

Tomei coragem e fui até a mesa dela.

"Oi, posso sentar?"

A cabeça movimenta-se positivamente.

"Olha só, não sei se tu percebeu. Agente pegava o mesmo trem antigamente todos os dias no mesmo horário..."

Comentei tudo, sobre as roupas, o cabelo bagunçado, a maquiagem no olho, o café...

"Eu te reconheci também."

Era a primeira vez que eu ouvi sua voz. Isso aumentou minha coragem.

"Qual teu nome?"
"Me paga uma cerveja?" Foi a resposta.
"Claro! Qual tu quer?"

Ela só levantou a garrafa que estava na mesa. Levantei e peguei outra Stella Artrois pra ela. Recusei quando ela ofereceu e falei que não gosto de cerveja, além de estar dirigindo.
Ficamos ali, trocamos algumas palavras. Não me contive e falei sobre o quão maravilhado eu era por ela, justamente por ter tanto mistério envolvido acerca daquela pessoa que me maravilhava.
Ela me perguntou se podia levá-la pra casa quando ela terminou outra cerveja. Respondi que com certeza.
Quando perguntei onde ela morava ela disse:

"Não, me leva pra tua casa."

Então, chegamos em casa, ela gostou do apartamento, comentou sobre a bagunça, se virou, na minha frente, com as mãos pra trás e me beijou.

Dormimos juntos, no dia seguinte, pela manhã, ela acordou cedo e falou que tinha que pegar o trem. Então, lá se foi ela...
Cabelo desarrumado, pintura forte nos olhos azuis querendo esconder as olheiras, roupas que me apaixonam, sapatos bonitos e, café pra manter-se acordada.

O nome dela? Bom, acho que é Stella.

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