26.4.13

Mary Jane

Durante minha adolescência, assim como muitos, matei aula, pulei muro, bebia escondido e desafiei alguns limites da sociedade.

Certo dia, ao chegar ao colégio para estudar, alguns colegas falaram sobre um novo lugar onde a galera ia pra jogar bola, andar de skate e matar aula, em geral.

Na hora aceitei e fomos ao lugar. Era uma praça que ficava no final de uma rua pouco movimentada e bem larga. Na praça, adolescentes bebendo, fumando e jogando futebol. Na rua, skatistas pulavam e faziam manobras sobre caixas de madeira e pedaços de ferro.

Sentamos na calçada pra ver a galera andando de skate, abrimos nossa garrafa de vinho barato que compramos no bar na frente do colégio e começamos a beber.

"Bah, podia dividir esse vinho aí" Ouvimos logo em seguida. A frase veio na direção de três meninas sentadas próximo de nós.
"E o que a gente ganha de volta?" Um dos meus amigos respondeu.
"A gente tem erva. E o bonitinho de olho azul ganha um beijo também, se me trouxer o copo."

Eu, envergonhado como sempre fui, fiquei vermelho na hora. Olhei na direção tentando ver qual delas havia dito aquilo e imediatamente meu olhar se prendeu à menina de cabelo castanho claro com dreads, olhos cor de caramelo e um rosto lindo. Ela fixou o olhar em mim e disse: "Não gostou da oferta?"

Levei o copo de plástico com vinho barato até ela. Ela estava sentada na calçada com seu skate de lixa rosa, com um tabuleiro de xadrez no shape. Ela ficou de pé, pegou o copo, tomou um gole e me deu um beijo longo, com gosto de uva e álcool. Ela me ofereceu o que fumava, eu recusei. Sentei ao seu lado e começamos a conversar.

Ela era linda, completamente apaixonante... Gostava de músicos, artistas, dreads, vestidos, leitura de cartas de tarô, braços fortes, alces, bigodes, fumar, café e refrigerante.
Eu achei estranho, já que não fumei com ela, não tinha(nem nunca tive) braços fortes e tudo o que tinha era uma penugem no rosto e mesmo assim ela havia se interessado em mim. Alguns minutos depois perguntei seu nome. Ela jogou toda a fumaça que tinha no corpo na minha direção e respondeu rindo: "Pode me chamar de Mary Jane".

Trocamos telefones e passamos a trocar mensagens pela manhã e à noite. Ela me ligou algumas madrugadas um pouco alterada e, em uma destas trocas diárias, ela falou que seu irmão mais iria viajar e ela ficaria na casa dele cuidando. Ela me passou o endereço e pediu que eu fosse visitá-la.

Matei aula outro dia e fui até o endereço citado. Ela me recebeu usando um vestido amarelo e acompanhada do cachorrinho do seu irmão. Naquele dia descobri outras coisas que ela gostava, como tatuagens, piercing no mamilo, pornô, falar palavrões e afagos pós-sexo. Pra variar, envolto à fumaça.

Ela tinha um cheiro de rosas, parecia ter o poder de expelir feromônios do amor e possuía lábios venenosos, viciantes. Eu queria largar o mundo inteiro e viver intensamente ali, aqueles momentos... Então fiz a coisa errada, falei que estava apaixonado.

"O quê, tu me ama? Hey rapaz... Eu posso foder teu cérebro. Não é nada pessoal... Essa é a minha natureza. Vou abrir a porta pra ti, vamos nos manter livres, tá? Vamos voar."

Desde então ela ficou distante, perguntei o que havia acontecido e comentei sobre ela estar distante e a resposta foi que aparentemente era isso que ela sempre fazia, pois era o que todos reclamavam. As mensagens e telefonemas diminuíram até se acabarem. Sofri muito tempo sua abstinência, mas em seguida surgiu outra menina que enchesse meus olhos e me viciasse novamente.


"De dia me alucina
De noite me atucana
Me leva para céu
Me leva para cama
Na pele de um anjo
No corpo da gostosa
O diabo é mulher
Que cheira como a rosa"

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