Na época, estava desempregado e tinha meu dinheiro contado.
Encomendei aquele buquê de rosas brancas que já havia dado em outra ocasião.
Passei uma noite decorando a letra da música, pra não errar. Sabia até as horas que o Joey gemia, falava mais sussurrado e parecia estar chorando, não havia erro. Mesmo assim, imprimi uma cópia da letra pra levar comigo.
Peguei meu sapato, minha calça social e uma camisa bonita e que não fosse muito quente, pois estava quente na época, e deixei bem passado e separado para o dia seguinte. Já tinha calculado a hora que ela devia acordar e tinha que chegar lá não muito depois disso.
Acordei cedo, tomei café e banho, vesti a roupa bem passada e fui até a floricultura. Peguei o buquê gigante e fui pegar o ônibus. No caminho, todas as mulheres passavam e largavam uma piada do tipo: "Ai, obrigada!" ou algum "Óum, que lindo." De fato, o buquê era lindo.
Tinha o dinheiro contado para ir e voltar, nem um centavo a mais, além do compromisso de ir almoçar na minha mãe. Então, precisava entregar o buquê cantando a música, tentar encantá-la da melhor maneira possível e depois, caminhar alguns quilômetros de sapato até a casa da minha mãe. Na época eu só usava tênis, não sabia andar de sapato.
Peguei o ônibus, meu corpo começou a transpirar e o papel do ramalhete começou a grudar no meu braço. Comecei a ficar nervoso, mas tinha que manter a calma ou ia estragar tudo. Tudo tinha que estar perfeito. A idéia tinha surgido há semanas e eu tinha me preparado muito pra isso.
Cheguei. Desci na parada e lentamente caminhei até a casa dela. Liguei, perguntei se ela estava acordada e pedi pra ela sair pra me receber.
Ela apareceu, a letra estava na minha cabeça, mas as palavras não saíam. Peguei a folha impressa pra ver se ajudava. Enquanto eu entregava as flores pra ela, li 15, talvez 16 vezes a frase "Have I ever told you". A letra estava completa na minha cabeça. Ela falou alguma coisa, mas eu nem consegui ouvir, estava tentando falar "have". Olhei mais uma vez pro papel, mas eu já sabia toda a letra. A palavra não saiu.
O papel saiu da minha mão, ela pegou e leu. Eu tentei mais uma vez. O ar passou por minhas cordas vocais, não era a palavra, era só um som. "Não, não faz isso" foi o que eu obtive como resposta. Ela me convidou pra entrar.
Entrei, conversei com ela, o primo e a irmã enquanto tomavam café. "Viu, eu disse que ele vinha hoje". Disse o primo dela. Fiquei sem graça, falei pouco, ainda estava nervoso e notei que meu braço estava com a cor do papel das flores, havia transpirado demais.
Fui com ela até a parada pegar o ônibus. Queria ir com ela, mas não podia, não tinha dinheiro. O ônibus passava na casa da minha mãe também. Mas, não conseguiria voltar para casa depois. Deixei ela ir.
Saí de lá depois de alguns minutos e caminhei até meu destino. Ela foi para o dela, de outra maneira e para outra direção.
Um comentário:
mas o q aconteceu?
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