Drogas. Velocidade. Sexo. Música. Liberdade. O filme "Corrida Contra o Destino", (Vanishing Point), de 1971, esfrega na nossa cara como a vida de hoje é chata e regrada.
O enredo, de tão simples, chega a ser banal. Kowalski (Barry Newman) é um desiludido ex-piloto e ex-fuzileiro do Vietnã que trabalha como entregador de carros. Pouco antes de sair para mais uma entrega, ele aposta com um amigo que consegue cruzar os Estados Unidos do Colorado à Califórnia (ou seja, do centro desértico à costa oeste) em menos de 15 horas. Sua ousada empreitada alimentada a anfetamina é confrontada pela polícia ao longo das estradas, transformando-se em um jogo abstrato entre liberdade e opressão. Por isso, o protagonista começa a ser apoiado por desconhecidos, simpatizantes à causa... sem causa!
O carro pilotado por Kowalski é um Dodge Challenger R/T 1970, equipado com um motor de 7,2 litros (o famoso 440) e três carburadores de corpo duplo - opcional conhecido como "Six Pack". Sim, é o mesmo nome dado às embalagens com seis longnecks de cerveja. Uma encrenca de 390 cavalos, curiosamente pintada de branco - em uma época dominada por cores berrantes nos automóveis.
...bons tempos, quando o automobilismo era perigoso e o sexo, seguro. Hoje, está tudo ao contrário.
Voltando ao filme: não seria preciso dizer que o Dodge não pertence a Kowalski, e sim, ao cliente que lhe aguarda na Califórnia. Transgressão? Isso não é nada. Anote com calma outras coisas que rolam: perseguições policiais a todo instante, caronistas gays agredidos por tentativa de assalto, uma mulher nua que vive com um hippie fornecedor de drogas, uma outra mulher abusada sexualmente por um policial corrupto, um racha na estrada com um lunático a bordo de um Jaguar, um DJ negro agredido por rednecks racistas, um grupo religioso movido a maconha e ácido...
Você consegue imaginar um filme destes sendo produzido hoje - e aprovado para ser exibido nos cinemas? A censura seria algo do tipo "proibido para menores de 549 anos". Ou mais.
Este clipe do Audioslave foi quase todo feito com cenas extraídas do filme. Bela homenagem.
Mas é preciso ponderar: todas estas trangressões não são explícitas. São sutis, pinceladas no desenvolvimento da história, sem o hype e as pirotecnias videoclípticas de hoje. Fazem parte do espírito da época, de contestação, busca de libertação espiritual, quebra de tabus. Quem não está habituado ao cinema de antigamente, a princípio pode achar estes elementos gratuitos, e o ritmo, lento. Mas uma vez que você engrena no contexto da coisa, fica fácil de entender porque ele é considerado um filme cult.
Ele mostra uma América desorientada, contraditória, que abstrai como uma fuga da constante repressão mascarada de liberdade, bradada pelos seus políticos. Preconceituosa. Kowalski é o herói do filme por ser um anti-herói.
"Corrida Contra o Destino" possui identidade, assinatura. Poucos diálogos, muita música, velocidade, e um espírito levemente alucinógeno, como tudo daquela época. Pulsa sozinho. Então é isso, fica a dica. Mas fuja do remake feito em 1996, que estrela Viggo Mortensen (o Aragorn, de "Senhor dos Anéis") no papel principal. Esta versão é uma... - queria usar outra palavra, mas deixemos com "fraquinha" mesmo.
Esta é a única parte do remake de 96 que presta alguma coisa. E ainda assim, deve muito ao original.
Ctrl+C: Jalopnik Brasil(genial).
Keep Simple!
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