24.12.09

Fim de tarde em tons de sépia

Ele ficou olhando pra ela, enquanto ela olhava para o horizonte, era uma daquelas tardes em tom de sépia. Ambos estavam na beira do rio, ela olhava o pôr-do-sol, ele olhava ela, o Sol olhava para os dois.

Tudo durou cerca de 30 segundos, ele não tinha a mínima idéia do que se passava dentro da cabeça dela. Será que ela pensa na formação do Sol? Será que ela sabe que ele é formado de Hidrogênio, Hélio, Nitrogênio, Carbono, neon, Ferro, Silício, Magnésio e enxofre? Será que ela pensa nos pássaros e para onde estão indo? Será que ela pensa que fora daqui existe vida? Será que ela pensa... Em nós?
Enquanto ele pensava no que ela pensava, também pipocavam diversas idéias sobre o que poderia fazer naquela hora.
Ele queria falar com ela sobre o que sentia naquele momento. Queira quebrar aquele silêncio, mas ao mesmo tempo, não queria mudar aquela imagem, o rosto dela de lado, olhando para o horizonte, vendo o Sol cada vez menor, sem esperar pelo raio verde, apenas pra pensar no que ela estava pensando, seja lá o que fosse.
Ele pensou tanto naquilo que acabou imaginando a cena e, na sua mente, ele falou tudo o que lhe veio naquele momento:

"Cara, como tu é linda. Eu sei que já te disse isso, mas faz tempo, eu acho. Eu acho lindo teu olhar, teu jeito espontâneo, tua originalidade...
Eu lembro do instante em que te vi pela primeira vez, desde aquele pequeno momento já me apaixonei, e tu sabe disso. Fiquei te enchendo o saco só pra ficar mais tempo perto de ti. Ainda éramos praticamente crianças. lembro daquele fim-de-semana que passamos bem pertinho, tu ali, sentada o tempo todo, bem perto e de frente pra mim, enquanto eu falava por horas pra um monte de gente. Lembro de uma vez que nos encontramos no ônibus bem sem querer, o dia era meio chuvoso, acho que era época de copa. Lembro que o beijo mais longo da minha vida foi contigo, lembro de ti cantando no meu ouvido uma música que eu não gosto, mas, por causa daquilo, amo ao mesmo tempo. Lembro como tu escrevia músicas pra mim em cartas e como amava tudo aquilo, as músicas, tuas palavras, tua letra. Lembro bem de quando tu disse que não estava pronta para aquilo. Lembro como fiquei quando vi que tu tava namorando, mesmo eu estando namorando. Não lembro como voltamos a nos falar com alguma frequência e mal lembro de quanto tempo passou, não sei se foram só algumas horas ou décadas, disso, eu não lembro. Mas, lembro de como lembrei de tudo em um piscar de olhos e tudo aquilo que tinha ficado pra trás voltou. Lembro que fizemos promessas e de como foi bom ver o Sol nascer contigo, ver teu olhar de novo, tão de perto. Teu lindos olhos e teu sorriso, não é que nem o da Mona Lisa, mas tem aquele mistério, tua carinha de menina sapeca, que em um segundo muda pra uma mais séria, teu beijo, tuas covinhas, teu abraço, teu cheiro. Não esqueça das promessas, eu não vou esquecer.
A coisa contigo sempre foi assim, pra mim é como uma música. A poesia é perfeita e a melodia fica variando magicamente, sempre em um ritmo que eu adoro. Sempre tenho vontade de dançar a música mais uma vez.
Eu dei toda essa volta nas palavras só pra te dizer uma coisa..."

Os 30 segundos passaram, o Sol parou de vê-los, ela parou de olhar pro Sol, e ele parou de olhar pra ela. A tarde em tons de sépia se foi, eles também, se foram. E nenhuma daquelas palavras foi dita.

Será que ela pensava em patos?

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