14.6.13

O primeiro protesto a gente nunca esquece.

Tinha meus 19 anos. Estava no alto do fervor, entre a adolescência e a vida adulta. Ainda não tinha nenhuma responsabilidade em casa além do meu quarto e dos estudos. Lavavam minha roupa, faziam meu almoço, limpavam a casa, compravam as coisas básicas pra casa e eu não gastava nenhum centavo com isso.

Me convidaram para um protesto e topei na hora, queria fazer meus direitos valerem, mostrar que estava insatisfeito com a situação, que não estava bom pra mim e a população precisava da minha ação para salvá-los da tirania do governo opressor. Vamos à luta! Levante, lute!

Cheguei ao local, cheio de energia. Me ofereceram um vinho, sentamos na calçada e ficamos bebendo enquanto iam chegando mais jovens para dar mais força ao nosso protesto.

Chegou um cara e me mostrou o que tinha na mochila: Um coquetel molotov! Meu sonho sempre foi jogar um. Mas esperava que não precisássemos chegar a tal ponto. Sempre fui pequeno e magrelo, certamente me daria mal em um confronto direto.

Enquanto aguardava, estava louco de vontade de ir ao banheiro, aquele vinho todo e a demora pra coisa começar estava me dando muita vontade de tirar água do joelho. Além disso, começavam a se juntar policiais pedindo pra não fazermos bagunça e nos ameaçando com tasers, que eram coisa nova na época.

O protesto começou, alguns manifestantes quebraram algumas paradas de ônibus e algumas janelas até que a polícia chegou em peso para nos controlar. Olhei para os lados e meus companheiros de luta estava com as camisas no rosto, eu não entendia o motivo até que uma bomba de gás foi jogada do lado de lá. Assim que ela estourou, um coquetel voou do lado de cá. Corri para a frente da manifestação afim de impedir que a coisa ficasse mais séria, mesmo sem enxergar direito por causa da irritação da bomba de gás.

Cheguei com as mãos pra cima, entre policiais e os esquentados, tentando apaziguar a situação e, senti a maior dor do mundo bem na axila.

Um dos policiais sacou o taser e deu um choque bem no meu suvaco, sem proteção, já que estava com os braços para cima e camiseta de manga curta. A dor foi tanta que não contive mais a vontade que estava de ir no banheiro. Sim, me mijei, e não foi pouco. Foi o suficiente para que a revolta parasse e se transformasse em risos dos dois lados, por alguns segundos. Meu objetivo foi cumprido, parei o confronto iminente da pior maneira possível.

Logo após os policiais me algemaram e levaram pra delegacia, rindo da minha cara, dizendo que eu era um dos líderes do confronto. Imaginem que legal eu ligando pro meu pai, pra ir me pegar na delegacia todo mijado. O primeiro protesto a gente nunca esquece.

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